Descrição
O alvo da Poesia
Se o alvo da poesia continua a ser o sentimento e o prazer dos olhos de quem harmoniza a linguagem em si, espera-se já – murmúrio, regato – que a poesia bernyana designe vocábulos pictóricos ímpares. Sucintamente, Rossyr desmancha os assoalhos do pecado em sua espacialidade poética e circularidade em Estações do homem, quando diz: “Grávida / põe-se a vida no porto / Parto de altíssimo risco / Cais propício a piratagens”.
A metonímia requintada, neste poema, é cubista porque implode a forma gramatical e explode em luminescência da sintaxe poética. É necessário, para tanto, abarcar num pedaço do futuro e saber que Rossyr retesa o arco-íris e suas estações fremem quando jardina o poema Ruminância humana: “Ruminar os dias / sem engolir / nem vomitar”
Que felicidade saber que em um verso a verdade do poeta é sempre nova.
A quarta dimensão da possibilidade linguística está no aforismo, e só Oscar Wilde teria a mesma competência, se recitasse Congresso: “Ferida maior que o corpo”.
Rossyr Berny é um artista que esculpe a palavra com a alma do filósofo e deixa nas páginas deste belo livro um lembrete que navega pela precisão pessoana: “Ou / o homem hoje / morre cumprindo vida deficitária // ou / enlouquece e se salva”.
Zé Augustho Marques